Empresas que criam produtos a partir de retalhos de tecidos e outros resíduos da indústria têxtil ou que ampliam a vida útil do material usado na confecção de roupasdesenho de um tigre， evitando o descarte depois que as peças são deixadas de lado， provam que é possível conciliar moda e sustentabilidade.
Em vez de seguir a lógica de produção linear， baseada em extração de recursos naturais， transformação em produtos e descarte， elas adotam conceitos da economia circular， centrada na eliminação de resíduos e impurezas， na manutenção da matéria-prima em uso e na regeneração de sistemas naturais.
Fundada em 2013 por Adriana Tubino， 46， e Itiana Pasetti， 38， a Revoada， marca brasileira de moda sustentável， firma parcerias com empresas como a Latam e Toyota， que geram grandes quantidades de resíduos têxteis —uniformes que não podem ser mais usados， cintos de segurança que precisam ser substituídos e revestimento de bancos， coleta o material e o transforma em produtos com nova utilidade， como bolsas， mochilas e carteiras， aproveitados como brindes pelas próprias companhias.
Processo produtivo circular de transformação de uniformes da Latam pela Revoada， em março de 2022， na cooperativa de costureiras Copearte， de Porto Alegre (RS)
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RIcardo Lucas/Divulgação
"Essa volta dos produtos， normalmente， é para substituir uma demanda do cliente que já existia; ele já comprava esses produtos como brindes corporativos， por exemplo. O que a gente faz é entender que demanda ele tem e conectar com um projeto circular， fazendo voltar algo que ele necessita"， conta Adriana Tubino.
Quando começaram a idealizar a marca， ainda em 2010， as sócias-fundadoras foram motivadas por um incômodo com o descarte desenfreado de lixo e a falta de destinação adequada para os resíduos gerados. Decidiram， então， usar o lixo como fonte criativa， confeccionando produtos a partir dos refugos. A Revoada começou transformando câmeras de pneu e tecidos de guarda-chuvas descartados em bolsas e acessórios de moda， com vendas no varejo. Com o tempo， a marca passou a oferecer soluções para resíduos têxteis industriais， especialmente uniformes， e consultoria para ajudar empresas a repensarem a geração de resíduos.
Interior do Banco de Tecidos， loja na Vila Bela Aliança， em São Paulo， que promove a troca de cortes de pano e a venda de produtos sustentáveis
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Lucas Seixas/Folhapress
Antes de abrir o Banco de Tecidos， a cenógrafa e figurinista Lu Bueno， 55， tinha um ateliê onde recebia seus clientes. Na época， com dois sócios e precisando de um novo espaço， percebeu que havia acumulado quase uma tonelada de tecidos ao longo de sua trajetória. Junto com seus parceiros， Bueno decidiu organizar uma troca de tecidos durante a apresentação do novo ateliê. Quem visitasse o espaço poderia levar um corte de pano para trocar， como uma maneira de dar nova utilidade aos materiais estocados ao longo dos anos. Nesse período， alguns colegas demonstraram interesse em comprar os recortes， o que deu origem à ideia de vender os tecidos por peso. Assim， surgiu um negócio inovador. Hoje， o banco atua evitando o descarte de sobras de tecido， recolocando esse material no mercado por meio de um sistema misto de troca e venda. "O modelo de negócio do Banco de Tecido nasceu， na sua origem， dentro de preceitos da sustentabilidade"， afirma Lu Bueno. "O que a gente faz hoje? Respondemos quantas vezes forem necessárias para dar quantas respostas forem necessárias para uma única pergunta: ‘O que fazer com a sobra de tecido?’ Para isso， temos várias soluções."
Cecília Camargo， funcionária do Banco de Tecidos， exibe produtos da loja
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Lucas Seixas/Folhapress
O Banco de Tecido atua em três frentes principais. A primeira é o sistema de troca， em que o cliente leva seus tecidos para serem avaliados e trocados por créditos em quilos， para compra de outros cortes. Também vende tecidos feitos com tecnologias e atributos sustentáveis， permitindo a pequenas e médias empresas o acesso a essas tecnologias. O terceiro modelo é a compra de sobras de grandes empresas， como a Farm.
A Florent surgiu em 2017 com o intuito de promover uma moda sustentável e se tornou o primeiro ateliê lixo zero do Brasil. Sarah Almeida， fundadora da marca， observou durante o curso de moda que alguns fatores do mercado precisavam mudar.
A empresa que criou tenta incorporar as três vertentes da economia circular. Como parte desse esforço， seleciona os tecidos utilizados em suas coleções e usa também retalhos， evitando o descarte.
Durante o processo， surgiu um novo desafio: as sobras de tecido geradas pela confecção dos produtos feitos com os retalhos. Como solução， o ateliê passou a criar peças em patchwork， técnica de costura de pedaços de pano， e a reciclar as aparas para usar como enchimento. Como resultado desse compromisso com a sustentabilidade， conquistou certificação do Instituto Lixo Zero Brasil.
"Até os pequenos pedaços a gente conseguiu desfibrar e de alguma forma utilizar como enchimento. A gente evoluiu essa pesquisa de tal forma que em 2021 conseguimos praticamente zerar a nossa emissão de resíduos. Nós chegamos a 97% de utilização"， conta Sarah Almeida.
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