Já começo a coluna te advertindo: este não será um texto "elesbrabet fortune tiger, manipuladores; nós, românticas vítimas da epidemia de Don Juans". Essa seria uma saída simplista. E é justamente a busca por saídas simples um dos fatores que alimentam esse mal-estar.
Quem cria "tantas expectativas" não são eles —somos nós. As expectativas são pessoais e intransferíveis. Nascem dos gestos do outro, mas é nossa a responsabilidade sobre como as interpretamos e vivenciamos esses atravessamentos afetivos. Do contrário, caímos sempre na posição de vítima.
Num mundo de encontros rasos, com pouco cuidado e vulnerabilidade, encontrar alguém que nos mobiliza e que se mobiliza por nós é delicioso. Expectativas serão criadas, e isso é natural. O problema não está em tê-las, mas em tomá-las como promessas. Como me disse Mário Sérgio Cortella em uma entrevista: "Ao confundirmos desapontamento com decepção, vilanizamos o outro ao invés de lidarmos com nosso mal-estar". O desapontamento nasce da frustração de uma expectativa que era minha. A decepção, da quebra de um combinado que era nosso.

Acredito que um dos nós da pergunta da leitora está em sentir-se decepcionada ao invés de assumir-se frustrada. Quando as coisas não saem como esperávamos, temos que lembrar que aquilo era o que esperávamos —não o que havíamos combinado.
Suponhamos que ele tenha te apresentado os filhos, você tenha mudado a agenda para um fim de semana idílico e, nesses dias, vocês compartilharam dores que levaram anos para dividir com o analista. É claro que expectativas foram criadas. Mas você não sabe se ele apresenta os filhos para todas, se fez isso por revanche contra a ex ou se estava animado e depois percebeu diferenças incômodas. Provavelmente nem ele sabe. Assim como ele não sabe que você já levou muitos paqueras ao seu sítio, sem que isso significasse compromisso.
Não sabemos o que cada gesto significa para o outro. No início de um envolvimento, queremos apenas viver e degustar o outro, ou melhor, o que o outro nos desperta. Como Freud sugere em "Introdução ao Narcisismo", não nos apaixonamos pelo outro, mas pela forma como ele nos faz sentir. Cada encontro alimenta nossa fantasia. E viver esse início de deleite parece mais gostoso do que conversar sobre o significado dos gestos ou os compromissos feitos depois de uma noite de amor. É aí que momentos que poderiam aproximar as duas pessoas acabam afastando-nas.
TodasProjetar no amanhã a certeza ou a cobrança da continuidade exata do que nos tocou ontem tem destruído encontros lindos. E aqui entra uma camada de gênero importante: sabe gente que ronca e acorda assustada com o próprio ronco? Vejo um mecanismo parecido nos homens após uma vivência súbita de intimidade.
Em vez de se permitirem seguir na experiência deliciosa que é conhecer alguém sem saber onde isso vai dar, tentam recobrar o controle de forma paternalista: É aqui que eles caem fora com as famosas frases: "você é incrível, mas não quero que perca tempo comigo" ou "sei que você espera algo que eu não posso te dar agora". O ponto é: ele não sabe. Não sabe o que você quer, não sabe se você já quer namorar, não sabe como quer gastar seu tempo. Mas presume que você, como mulher, já espera certezas e próximos passos.

Passos que poderiam ser apenas uma dança, fluida, não uma escada íngreme rumo ao compromisso. Ao se retirarem subitamente, dizem que estão sendo responsáveis afetivamente e te poupando, mas estão apenas protegendo o próprio narcisismo. Isso é simplista. Nós não somos de porcelana.
"Sou só uma mulher aberta a encontros, adorando viver o hoje —sem que isso signifique compromissos com o futuro.Tô adorando te conhecer, dançar na sala, conversar sobre a vida… por enquanto, é só isso." Tive essa conversa numa relação recente onde o cara já se preparava para um aborto afetivo antes mesmo que tivéssemos gerado qualquer coisa mais madura. Recomendo. Sei que muitas mulheres dirão que não é nossa função educar marmanjo, mas acho terapêutico e libertador desconstruir a fantasia de que ficamos automaticamente reféns das expectativas só porque esse início está sendo gostoso.
Ao não conversarmos sobre expectativas para não burocratizar a mágica da relação, acabamos jogando sozinhos e, muitas vezes, um contra o outro. Na falta de diálogo, quem nos acompanha são nossos traumas e interpretações enviesadas. Uns com medo de pressionar, outros com medo de decepcionar. Tiramos conclusões precipitadas e interrompemos histórias lindas de maneira simplista.
Ter expectativas quebradas não vai partir nossos corações para sempre —desde que nos responsabilizemos por diferenciar frustração de decepção. É importante lembrar que o outro não traiu nossa confiança, apenas nos deixou triste, com raiva, com saudades… porque queríamos seguir mais um pouco e ele não quis. Nossa expectativa não é responsabilidade do outro. É apenas um desejo nosso.
Todo mundo tem direito de mudar de ideia e querer parar de brincar com a gente. O cara não é um babaca por isso, mas é covarde, machista e infantil quando foge do diálogo. Por que não arcar com as consequências do esvaziamento do interesse e simplesmente conversar? A famosa frase do Pequeno Príncipe vem à cabeça: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". As expectativas são nossas, mas os momentos de intimidade foram compartilhados. Ele sabe que conversas sobre a bipolaridade da mãe e apresentações aos filhos pequenos têm peso, mesmo que signifiquem coisas diferentes para cada um. O maduro, portanto, é sentar e conversar.
Sou defensora do afeto, da presença e da intencionalidade em todos os encontros —mesmo que seja apenas um. Se tivermos coragem de conversar sobre as tais expectativas antes que elas se tornem tabus, talvez encontremos caminhos comuns ou ao menos possamos ficar mais em paz com o descaminho de nós dois. Criar contextos íntimos e cuidadosos é um ato de resistência ante a lógica do descarte. Não acredito no recuo afetivo tão disseminado em tempos de heteropessimismo. Atrofiar carinhos só reforça que, quando aparecem, devem significar algo a mais. E se pudermos normalizar o afeto, convidando os homens a entenderem que não estamos numa prateleira esperando ser escolhidas? Estamos no parquinho, brincando com eles. Mas também sabemos conversar como gente grande.
E se você também tem um dilema ou uma dúvida sobre suas relações afetivas, me escreva no [email protected]. Toda quarta-feira respondo a uma pergunta aqui.
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